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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Peripécias do Ser: poesia juvenil ou maturidade poética? - por Danilo Gomes Guedes

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   Por Danilo Gomes Guedes

Ontem terminei a leitura do livro Peripécias do Ser, da Laura Lucy Dias. No prefácio feito pela própria autora a obra é classificada como “poesias juvenis”. A autora pergunta de cara: “O que se dizer de poesias juvenis?”. Após a leitura do livro, confesso que chego (e não chego) a uma resposta para a indagação. E ainda lanço outro questionamento: O que são poesias juvenis?
A pergunta que faço também não é de resposta fácil. Trata-se de pergunta tão difícil quanto as já conhecidas: o que é arte? o que é literatura? o que é conto... o que é poesia? São questionamentos que aparecem para qualquer indivíduo que busca o prazer pela leitura e principalmente para aqueles que procuram o prazer em livros que tenham aquele “quê” de arte, de obra estética.
Ezra Pound, poeta e crítico literário, fala que "Literatura é linguagem carregada de significado". E acredito que inferindo o que a crítica e a teoria expõem, somado ao conceito de Pound, que a literatura é a arte de talhar a palavra, de transfigurar a linguagem...
Peripécias do Ser, apesar da definição da autora, vai além de poemas juvenis. Não que a classificação juvenil sirva para rebaixar a poesia. Também não se trata, é claro, de criar dentro da poesia um subgênero “poesia-juvenil”. Acredito que a intenção da autora não foi essa. Infiro que foi apenas marca a obra dentro de termos ontológicos, identificando cronologicamente o momento da produção. Isso significa que a Laura Lucy coloca as poesias numa fase inicial de sua vida e como consequência de sua produção poética. No entanto, aí reside um perigo: alguns podem considerar que os poemas são voltados para um público juvenil.
Com todo respeito à autora, essas poesias vão além, pois, apesar de terem sido concebidas numa fase juvenil, já demonstram a maturidade de uma poetisa. A obra apresenta a preocupação de fazer um produto artístico, além de desmistificar a falsa ideia corrente de que poesia é apenas expressar o que sentimos (produto da inspiração); a poesia é expressar sentimentos, mas vai muito além: poesia é arte.
Encontramos em Laura Lucy a preocupação do fazer poético por meio da metalinguagem, a reflexão da poesia sobre a poesia; há também o diálogo intertextual, envolvendo grandes nomes como Poe, Shakespeare, Augusto dos Anjos e a mitologia greco-romana; há ainda a preocupação com a musicalidade e a construção de imagens.
O “Metapoetar”, página 36, traz a reflexão do fazer poético: “Queria ser poeta de sangue/ E destilar verdades bem vestidas...? Metaforizar, formar uma gangue/ Para revitalizar alienações descabidas”.
Já “Vem morte”, página 65, apresenta o exercício intertextual. Traz uma tonalidade que lembra Augusto dos Anjos, além de citar Shakespeare: “Oh Morte, meu Romeu/ Deita-me no túmulo/ Da paixão que rompeu/ Com a verdade em cúmulo...”. E o que falar de “Retorno de Eros”, página 58, que na forma clássica do soneto, retoma a mitologia grega?
“Os dentes de Berenice”, clara alusão à Poe, página 48, assim como “Retorno de Eros”, demonstra um diálogo literário com os clássicos universais. “Os dentes de Berenice” servem também para demonstrar o que afirmei sobre a musicalidade e criação de imagens:
“Todo momento diante de ti Centro o olhar em tua boca brilhosa, Este lábio, que quando sorri, me parte E faz-me caleidoscópio em noite formosa...”
Poderia citar aqui outros poemas para falar das qualidades estéticas, mas deixo para que o leitor visite a obra e tire as suas impressões. Acredito que, pelo exposto, percebe-se que não se tratam de poemas classificados dentro de um subgênero “poesia-juvenil”. Tratam-se de poemas concebidos numa fase da adolescência para a juventude, mas que já demonstram a maturidade e conhecimento de um poeta.
Brincando com autora, faço um pedido: espero que a Laura no próximo livro de poemas não coloque no prefácio a definição de poesias adultas, pois aí criaria o estigma de que Peripécias do Ser é um livro para o público juvenil e com poesias juvenis. Para mim, Peripécias do Ser é um livro de poemas que, se não consegue em todos os escritos, em muitos busca a maturidade da poesia como arte. E isso não é pouco! Leiam a obra e tirem as suas conclusões.

1 comentários:

  1. O que gostei nessa resenha foi as citações que o autor relacionou com seus poemas, também concordo, está cheio de perolas literárias essa sua obra, parabéns Laura, valeu!

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